

Agosto de 2020. Depois de seis anos, ainda há obras inacabadas, que foram iniciadas para a Copa de 2014, em 11 das 12 cidades que sediaram jogos do mundial no Brasil.
O sonho que começou em 2007, quando o Brasil foi escolhido país sede, se tornou um pesadelo para quem, em 2020, ainda depende das obras que nunca foram concluídas. Esse é o caso dos moradores do Parque São José, em Curitiba, que há anos tem um trecho da Avenida Salgado Filho interditado para obras.
De fato, a única cidade com todas as obras prontas é o Rio de Janeiro. Porém, isso não é por um bom motivo. A principal razão da entrega é a cidade ter sido sede das Olímpiadas de 2016, que também precisavam das estruturas criadas pela Copa 2014. Em 2016, apesar de fora do prazo, todas as benfeitorias estavam prontas e funcionando.
Por outro lado, nas outras 11 cidades ainda há projetos de mobilidade urbana e melhoria em aeroportos a serem concluídos.
Cuiabá talvez seja o caso mais curioso. Afinal, a capital do Mato Grosso ainda espera pela conclusão das obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Até o momento, só foram construídos 6 km dos 22 km previstos, esse pequeno trecho já custou mais de R$1 bilhão. Ou seja, cerca de 177.666 milhões por quilômetro.
Além disso, a cidade ainda gasta mensalmente R$ 16 milhões para manutenção e preservação dos 42 vagões que já foram comprados e até hoje nunca utilizados.
Já o VLT prometido para Fortaleza também não teve a implementação mais tranquila. A obra foi divida em três trechos, com a promessa da construção de 13,7 km. O primeiro trecho foi entregue apenas em 2017 e continha 5 km. Em 2019, foram entregues os dois últimos trechos, completando o projeto inicial.
Porém, o dia a dia do VLT não foi fácil, entre a inauguração do trecho 2 em setembro de 2019 e dezembro de 2019 foram ao menos quatro acidentes envolvendo os vagões do VLT, o mais grave deixou 37 pessoas feridas após a colisão frontal de dois trens.
Estima-se que apenas com essa obra foram gastos R$ 300 milhões.
Além disso, foi planejada a construção de duas linhas de BRT nos arredores do estádio Castelão, a entrega fazia parte das obras para facilitar o acesso durante o mundial. Por fim, nenhuma das duas chegou a sair do papel.
Outra reforma importante que não foi entregue é a expansão do Aeroporto Pinto Martins. Em 2014, a Infraero admitiu que não teria como entregar a expansão que começou em 2010, fez – literalmente – um puxadinho no aeroporto e assim aconteceu a copa. Em 2017, o aeroporto foi vendido durante um leilão do Programa de Privatizações do Governo Federal e agora é administrado por uma empresa alemã.
Manaus tem a situação mais engraçada de todas, onde foi prometido um BRT (Ônibus de trânsito rápido) para a Copa. Em 2012, o governo estadual informou que não conseguiria entregar a tempo, mas prometia que após o mundial o BRT chegaria. Apenas em 2019, o governo admitiu que a obra nunca sairia do papel, afinal, ela nem chegou a ser licitada.
Apesar de terem sido prometidos três Centro de Atendimento ao Turista, em 2014, apenas um deles tinha sido entregue. Após a copa, começou a construção do segundo CAT, que foi concluída em 2019 – cinco anos depois. Além disso, o último CAT ainda não saiu do papel.
Em suma, Manaus tem o cenário mais grave em termos de prejuízos com estádio. A Arena da Amazônia, foi construída por R$ 670 milhões de reais. Anualmente são gastos R$ 11 milhões de reais com sua manutenção, porém, no melhor dos cenários só arrecada R$ 4 milhões com jogos de futebol, eventos e shows. Seguindo este ritmo, serão necessários 3 mil anos para ser recuperado o investimento feito.
Na região Sul, Porto Alegre já gastou mais R$560 milhões com obras de mobilidade urbana. Dentre as 19 obras prometidas, apenas quatro foram entregues a tempo do mundial. Atualmente, nove obras estão completas, seis estão em andamento, duas foram paralisadas e outras duas nunca saíram do papel.
Em contrapartida, Belo Horizonte se encaminha para se tornar a segunda cidade com as obras completas. O que falta é um conjunto de reformas no Aeroporto de Confins, porém a concessionária que começou a administrar o aeroporto em Agosto de 2014 diz que a responsabilidade de conclusão é da Infraero. Assim, as duas disputam judicialmente para encontrar uma solução para o problema.
Para São Paulo também falta apenas uma obra para ser entregue. Entretanto, essa é a obra mais complexa, pois se trata da construção da Linha 17-Ouro do monotrilho. Apesar de ter sido estimada em R$ 1,39 bilhão, com previsão de entrega em 2013, em 2020 já soma R$ 3,7 bilhões em gastos, com prazo para 2022.
O Secretário de Transportes de SP afirmou em Maio de 2020 que 88% da obra já está concluída, mas a previsão de entrega completa é para 2022. Isto é, oito depois do mundial de 2014.
Cidade Belo Horizonte | Obras Reforma do aeroporto | Status Não feita |
Brasília | VLT | Não feita |
Brasília | Túneis | Sem conclusão |
Cuiabá | VLT | Sem conclusão |
Curitiba | Mobilidade urbana | Sem conclusão |
Fortaleza | Reforma do aeroporto | Não feita |
Natal | Mobilidade urbana | Sem conclusão |
Porto Alegre | Mobilidade urbana | Sem conclusão |
Recife | Mobilidade urbana | Sem conclusão |
Salvador | Reforma do aeroporto | Sem conclusão |
Salvador | Mobilidade urbana | Sem conclusão |
Empreiteiras, governadores e prefeitos alegam que o principal motivo para o atraso na entrega é a falta de dinheiro. Segundo o TCU, até 2014 foram gastos R$ 25,5 bilhões em obras. É, no mínimo, irônico que o que falte seja dinheiro, após tudo o que já foi gasto.
Além disso, os gastos com a Copa não terminaram em 2014. Conforme explicou o ex-Secretário Adjunto de Esporte e Educação do Mato Grosso, Leonardo de Oliveira, quem paga pelos estádios é o governo, ou melhor VOCÊ. Por ano, são gastos – em média – R$ 10 milhões de reais para manutenção de cada um dos estádios utilizados no mundial.
Segundo cálculos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, os gastos da Copa trouxeram retorno de R$ 30 bilhões para a economia brasileira. 50 mil novos postos de trabalho, temporários e permanentes, foram criados.
Mas ao observar o cenário econômico pós-mundial, em 2015 a economia brasileira teve uma retração de 3,8% – segundo o IBGE. Também não houve atração de novos investidores para o país. Ou seja, os benefícios não foram além de alguns momentos de diversão.
A ONG Contas Abertas traz uma perspectiva interessante sobre a questão dos gastos, após reunir os dados obtidos em delações, observou-se que nas obras de 9 dos 12 estádios houve desvio de verbas. Por fim, a campeã de roubo foi a reforma do Maracanã, onde – apenas – Sergio Cabral, ex-governador do Rio, recebeu cerca de R$ 6,3 milhões em propina.
A conclusão que fica sobre a Copa do Mundo de 2014 é que ela jamais será esquecida, mas não por um bom motivo. Afinal, o que não vai dar para esquecer é todo o prejuízo que ela causou.